Grupo de Alfabetização do Porto

Description level
Subsection Subsection
Reference code
PT/ADPRT/ASS/CCPC/D-GAP
Title type
Formal
Date range
1969-12-01 Date is certain to 1971-08-05 Date is certain
Dimension and support
papel
Extents
12 Folhas
Biography or history
O Grupo de Alfabetização do Porto funcionou nesta Cooperativa entre outubro de 1969 e março de 1971. Desenvolveu um trabalho de alfabetização nos bairros camarários do Porto durante alguns meses em 1970 e de 1971.

O GAP era composto por Rui Mota Cardoso, Vitória Rafael, João Lourenço, Fátima Palma, Paulo Santos, Eduarda Almeida, Antónia Huet Bacelar, Fátima Oliveira e Sousa, Eduarda Soares da Costa, José Paulo Viana, Pedro da Conceição Francisco, entre outros.
Custodial history
Segundo informações de Mário Brochado Coelho presentes na BD Access (ver outro fundo ADPRT/PSS/MBC), em outubro de 1969, Antónia Huet Bacelar, Fátima Oliveira e Sousa, Teresa Costa e Helena Costa Araújo com o apoio do GRAAL (Movimento Internacional de Mulheres), do qual faziam parte Teresa Santa Clara Gomes e Teresinha Tavares, organizaram várias reuniões na Juventude Universitária Católica (JUC) do Porto para sensibilizar e constituir um grupo de pessoas que se interessassem pela pedagogia de Paulo Freire e que mostrassem disponibilidade para se dedicarem a um trabalho regular de alfabetização nos bairros camarários do Porto.

Enquanto tentavam constituir o grupo, procuraram planear a formação dos seus elementos solicitando os apoios necessários. Assim, a necessidade de, em concordância com a pedagogia Paulo Freire, os alfabetizadores conhecerem a realidade social, cultural e económica do meio em que iriam trabalhar, levou a solicitar a colaboração das assistentes sociais que, no âmbito da Obra Diocesana Obra Diocesana de Promoção Social (ODPS), trabalhavam nos bairros camarários. Com esta finalidade, através do contacto estabelecido por António Melo, foi realizada uma primeira reunião no Instituto de Serviço Social. Reconhecida a necessidade de obter formação em dinâmica de grupo e proceder à elaboração de conjuntos de palavras que além de adequadas à realidade sócio-cultural da população fossem adequadas do ponto de vista linguístico, solicitaram a colaboração de pessoas já ligadas a cada área.

O Grupo de Alfabetização do Porto fez a sua formação inicial, entre dezembro 1969 e janeiro 1970, em linguística, psicologia e dinâmica de grupo, com o intuito de fazerem alfabetização em bairros sociais do Porto em articulação com a Obra Diocesana de Promoção Social. Essa formação inicial teve o seguinte calendário e formadores: Isolina Paulino - Dinâmica de Grupos (6 a 8 de dezembro); Teresinha Tavares - Método de Paulo Freire (13 e 14 de dezembro) com o acordo com a Coordenação Técnica da Obra Diocesana de Promoção Social (com as Assistentes Sociais Maria Benedita Neuparth e Maria do Carmo Matos Graça) para a alfabetização em alguns bairros camarários; Trabalho, em pequenos grupos, sobre Paulo Freire e sobre os problemas dos bairros camarários com levantamento de potenciais interessados na alfabetização (Férias do Natal); Reunião com as Assistentes Sociais da ODPS nos bairros, sobre a caracterização e problemas dos bairros (3 de janeiro); Reunião com Teresinha Tavares sobre as temáticas e palavras geradoras a escolher para a alfabetização nos bairros (4 de janeiro); Convívio do GAP (10 e 11 de janeiro); António Taborda - Legislação e Organização do Trabalho e Corporativa (17 de janeiro); Cassiano Abreu Lima - Legislação e Organização da Saúde, Assistência e Previdência (18 de janeiro); Mário Brochado Coelho - Situação da Educação em Portugal e necessidades de Alfabetização (22 de janeiro); Luís Filipe Lindley Cintra - Apoio linguístico na identificação das palavras geradoras (24 de janeiro).

Isolina Paulino acompanhou este grupo com reuniões periódicas ao longo da atividade de formação e durante a atividade realizada nos bairros no ano de 1970. Durante o mês de dezembro foram iniciados os contactos nos bairros camarários da Fonte da Moura, S. João de Deus, Regado e Carriçal, para o levantamento das pessoas interessadas em ser alfabetizadas e para aprofundar o conhecimento do seu meio sócio-cultural e profissional.

Depois desta formação e após a desistência de alguns alfabetizadores, constitui-se o Grupo de Alfabetização do Porto (GAP), que posteriormente se transferiu para esta Cooperativa.
Scope and content
O Grupo de Alfabetização do Porto tinha como principal objetivo a alfabetização segundo o método de Paulo Freire em zonas carenciadas, nomeadamente bairros camarários. Contém: documentos de reuniões de trabalho deste Grupo e respeitante à realização de atividades culturais organizadas e/ou promovidas por esta Cooperativa e este Grupo, como sessões informativas e conferências.
Language of the material
por (português)
Notes
Elemento de informação "História administrativa, biográfica, familiar": Segundo informações de Mário Brochado Coelho, presentes na BD Access (ver fundo ADPRT/PSS/MBC): 1) Paulo Freire (1921-1997) e seu método pedagógico de alfabetização: Paulo Freire foi responsável pelos primeiros trabalhos de alfabetização no Brasil e no Chile. Entre 1964 e 1969, foi especialista de Educação Rural no Ministério da Agricultura e na UNESCO, e redigiu os livros "Educação como prática da liberdade" e "Pedagogia do Oprimido". Nos anos 70-80, foi especialista de Educação de Base no Conselho Ecuménico das Igrejas na Suíça e Professor na Universidade de Genebra, apoiando, nomeadamente, a alfabetização na África de língua portuguesa. Entre 1980 e 1997, foi especialista de Educação e professor universitário em S. Paulo, Brasil;

2) Antecedentes do método de Paulo Freire em Portugal (1965-1969): Em 1965, o Movimento GRAAL começou em Portalegre o "Projeto de promoção humana e evangelização". Do contacto que foram tendo com o meio viram que havia muitas pessoas não alfabetizadas, sobretudo nas aldeias. Em 1967, Maria Justina Sepúlveda da Fonseca (Licenciada em Filosofia), para estudar métodos de Educação de Base, deslocou-se em 1967-1968 ao México (Ivan Illich), Chile (Paulo Freire) e Brasil (alfabetizadores em S. Paulo e Rio de Janeiro), e propõe ao GRAAL a utilização do método Paulo Freire que tinha sido aplicado com grande sucesso no Brasil.

Em 1968, para adaptar o método a Portugal e formar os primeiros alfabetizadores, o GRAAL constitui uma equipa com: Teresa Santa Clara Gomes (membro do GRAAL e licenciada em germânicas), Teresinha Tavares (membro do GRAAL, licenciada em biologia, coordenou as ações de alfabetização em Portalegre), Manuela Silva (membro do GRAAL e economista), Luís Filipe Lindley Cintra (Prof. de linguística na FLUL), Alfredo Bruto da Costa (engenheiro e professor universitário), Henrique Reynolds de Sousa (Engenheiro), Maria Justina Sepúlveda da Fonseca (Licenciada em Filosofia) e outros colaboradores (João Salgueiro, Economista; António Reis, Licenciado em Filosofia). Esta equipa efectuou o levantamento temático, a escolha das palavras-chave e a preparação dos desafios (naquela altura sobretudo feitos com slides). Nas férias do verão de 1968 veio um grupo de estudantes da Universidade de Lisboa para um programa intensivo de formação para a alfabetização, tendo-se constituído a seguir a esta formação 12 grupos de alfabetização no distrito de Portalegre. Em outubro iniciou-se um processo idêntico em bairros pobres de Lisboa (no qual colaboraram Maria Antónia Huet Bacelar, aluna da FLUL, e José Paulo Garcia Viana, aluno do IST, que viriam a fazer parte do GAP).

No inverno de 1969, o GRAAL dá continuidade ao processo de Alfabetização em Lisboa; e, no verão, em Portalegre, funcionaram 8 grupos de alfabetização e 8 grupos de pós-alfabetização, tendo vindo também estudantes das universidades de Coimbra e do Porto (incluindo Fátima Oliveira Sousa e Teresa Soares da Costa, que vieram a fazer parte do Grupo de Alfabetização do Porto). A pós-alfabetização, quer a seguir ao verão de 68, quer a seguir ao de 69, foi realizada por voluntários de Portalegre e estagiários, estudantes do serviço social do projeto de "Projeto de promoção humana e evangelização". O programa foi bem sucedido, pois a maior parte das pessoas aprendeu a ler e a escrever e algumas continuaram os estudos. Também várias pessoas se organizaram para procurar resolver os seus problemas básicos (escola para as crianças, centros sociais, comissões para apresentar reivindicações às autarquias). Assim, o trabalho de alfabetização, pós-alfabetização e animação social foi-se alargando.
Creation date
04/05/2017 10:01:35
Last modification
07/11/2017 10:53:42